quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Constatações

Constatação 1.: Semaninha de cão.


Constatação 2: Os meus objectivos mensais actuais são superiores aos objectivos anuais de há três anos atrás. Nesse tempo eu não fazia a ponta de um corno certamente.


Constatação 3: O meu fetiche de estar no meio de dois homens, não incluía propriamente dois egípcios em que um pesa o triplo de mim, apesar de simpático e o outro, tem uma capacidade de bluff tão grande que eu sairia nua num jogo de strip-póquer, com o handicap de ser um monumento que mete qualquer uma das sete maravilhas a um canto.


Constatação 4: Apesar de não realizar a merda do fetiche, fico com a sensação de que alguém vai sair fodido desta, veremos se eles ou se eu.


Constatação 5: Se os egípcios não o conseguirem, tenho a impressão que o angolano anda a tentar.


Constatação 6: Tenho momentos do dia em que dou por mim a pensar que o Sócrates podia foder mais o País, a Europa ir toda de cú e os EUA finalmente recuperarem da maldita crise. Juro que são só aqueles momentos em que eu viro o cú para Meca e bato com os cornos quatro ou cinco vezes na parede, antes de abrir a página do Forex ou ler as previsões da Bloomberg.


Constatação 7: Tenho um amigo novo Senegalês. Nunca me viu a tromba por isso me liga de cinco em cinco minutos a marcar um encontro a meio caminho.


Constatação 8: Ontem ía matando três colegas meus a tiro, em pleno almoço. O máximo que consegui foi espetar um pontapé na canela do que estava à minha frente.


Constatação 9: Devo ter sido tão má na outra encarnação, que vou ter de levar com o emplastro que estava ontem a almoçar ao meu lado e logo eu que não posso com ele nem com molho de tomate. Bendito check-in online que me permitirá, com sorte, sentar o rabo no cockpit mais propriamente ao colo do piloto ou, em desespero de causa, arrastar a carcaça para o sítio mais recôndito do porão.


Constatação 10: David Luíz, um dia... faço-te um filho! (Hoje não estou com disposição porque mí querido Cardozito está muy malo!!)


[No pasa nada. Todo tranquilo.]

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Terror.

Juro que é dos bichos que me metem mais medo, repulsa, horror, pavor, insónias, náuseas, atrofio muscular, eu sei lá. Por mais pequenas que sejam... para mim são sempre tarântulas e o cenário a que se assiste quando um destes monstros horrendos se aproxima de mim é, no mínimo, triste. Muito triste. Posso dizer-vos que, após a paralização momentânea de todos os músculos do meu corpo (cérebro não conta que já morreu faz anos), as minhas pernas põem-se na alheta e eu pareço uma soprano com artrite nas cordas vocais, que só para de correr quando lhe aparece um super-herói que a salve daquela terrível criatura maléfica. Às vezes esse super-herói chama-se Raid, e fica literalmente esgotado finda a sua missão.



[Sou uma nódoa, não sou?!]

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Dos Complexos.

Eu podia dizer dizer que sou perfeita. Que sou a Mulher perfeita, com um invejoso e escultural 86-90-86, pele de seda e olhos de felina. Que o Olivier se inspira nos meus cozinhados e a Paula Bobone na minha etiqueta. Que dei um grande contributo na ilustração do Kamasutra e que os homens me caem aos pés como se de tordos se tratassem. Que o Usher se refere às nossas trocas de fluidos quando canta "a lady in the street but a freak in the bed". Podia dizer que sou o exemplo do que uma boa filha deve ser, sempre obediente, carinhosa e prestável, dando a alegria nossa de cada dia aos meus progenitores. Podia dizer que sou a irmã mais querida e adorável do mundo, a quem os irmãos (que pelo que me foi dado a conhecer ainda é só um) pedem sempre os bons conselhos; cuja abnegação e altruísmo são palavras de ordem e sempre sobrepostas ao interesse pessoal. Podia também dizer que sou a Amiga perfeita, sempre presente nos maus e bons momentos, aquela que oferece os melhores presentes no Natal e não olha a meios para os deixar felizes. Podia, eventualmente, dizer que sou a Colaboradora perfeita, com um grau de inteligência acima da média, cujos rácios de eficácia e eficiência são superiores aos de qualquer outro colaborador. Com uma vasta cultura que abrange os primórdios da civilização e previsões infalíveis no que concerne à evolução dos stock, commodities and currency markets; com o domínio pleno de mais de dez Línguas entre elas o Mandarim, o Brasileiro e o Mirandês.

Enfim, eu podia aqui fazer-vos um tour pela perfeição. Divagar entre a concepção de mulher à luz de Petrarca ou escrever um evangelho segundo Saramago.

Infelizmente, no meio de tanta perfeição, o meu nome do meio é Electra, e o meu complexo é tão vasto que normalmente a minha mãe acaba por se chatear com o meu pai cada vez que ele toma partido por mim e não por ela. Por outro lado, o meu pai acaba por ficar danado com a minha mãe, cada vez que ela defende o seu querido filho. E eu acho que devia ser Electra e o meu irmão, Édipo. Seríamos órfãos, bem sei.

Mas nada é perfeito.

Interrogação

(Não, não vou aqui declamar Camilo Pessanha. Embora pudesse.)

O que eu queria mesmo saber era que licor foi aquele que eu bebi ao jantar que me faz pensar que tenho de aumentar as dioptrias, e que vou morrer cega tal é o grau de nebulosidade que se me afigura à frente do nariz.


[Ok, confesso antes bebi meia garrafa de vinho e dois flutes de champagne que até era doce demais, mas marchou na mesma!]

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Erros

Se há coisa em que eu costumo reparar é na escrita das pessoas. Quase me atreveria dizer que me seduz ver uma escrita bem pontuada, com uma sintaxe exemplar, sem abreviaturas e sem aquelas substituições estúpidas dos acentos por h's, dos s's pelos x's, dos k's, enfim acima de tudo sem aquela escritazinha à Morangos com Açúcar, com que os nossos primos de 16 anos nos costumam brindar (e não só os primos de 16 anos, eu sei). Admiro quem consegue utilizar na perfeição os À, e Ah (depois também há o Ahhhhhhhhhhhhhh, mas isso são outras estórias), ou quem consegue empregar correctamento o "ir ao encontro de" e o "ir de encontro a".


Chamem-me maluca, mas tenho fobia a má escrita, principalmente no que toca a ortografia.


Assim, sendo eu paranóica da molécula, até aí não vejo novidade, tenho sempre cuidado com a minha própria escrita. Não digo que a minha escrita é impecável, longe disso, mas tento sempre, mesmo quando regurgito estupidez, que essa mesma estupidez seja descrita sem erros de sintaxe e acima de tudo sem erros... ortográficos. Confesso aqui e agora: tenho um pavor a erros ortográficos, maior do que o de ficar careca ou mais enrugada que um Shar Pei. Gosto que me chamem a atenção se virem que estou a escrever mal. Aliás eu gosto de ser repreendida e chamada à atenção sempre que estou a fazer merda, é sinal de que se preocupam comigo e querem que eu evite fazer a mesma asneira mais que uma vez.


Bom e toda esta treta de bla bla bla... para dizer que estou Lixada com "F"!! Tenho desde ontem um brutal erro ortográfico no post abaixo e não houve uma alma caridosa, uminha sequer, que me dissesse: Ó minha grandessíssima equídea, tu já viste aquela merda de erro que tens ali!?



[E agora amuei e não falo mais com ninguém até ao Natal quando publicar a minha lista de prendas e precisar apelar ao vosso espírito natalício!!]



Imagem - Devon Aoki

terça-feira, 21 de setembro de 2010

LicenÇa Para Porte de Arma... E Respectivo Uso!





Sempre que vejo um bando de avestruzes à minha volta, à espera do amanhã sem fazerem a ponta de um corno e especados a olhar para mim, só me ocorre a idéia de... tiro ao pato!



[E não... hoje não estou nada pura.]

domingo, 19 de setembro de 2010

E Acrescento Mais:

Aquele que vestiu de branco (sou gaja e não sei o nome dos jogadores, ok?), hoje estava com uma moral e confiança que me deixaram parva.

Tenho cá para mim que ele anda a ser treinado com a Vitória. Cada vez que a bola segue uma trajectória, alguém lhe atira um naco de carne na mesma direcção e ele corre atrás.


[Estou cá com um feeling que da próxima comemos os que deviamos ter comido hoje e mais uma dúzia. Haja fé, irmãos.]

Só Tenho Isto a Acrescentar:

A ave saiu com as unhas limadas.

O felino com elas cortadas rentes.

E o meu MENINO: com a cabeça erguida!


[De resto... ainda há muito frango para virar.]

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Outras Vezes...


Dizem que quero dar o passo maior que a perna.

E eu explico-lhes que, com pés de gueixa, demoro uma eternidade a chegar onde quero, se não der passada grande.


[Também há quem afirme que eu não posso estar parada senão caio, dada a reduzida dimensão das bases.]

Às Vezes...


Dizem que sou loura.

Mas eu explico-lhes que não. Sou apenas burra.



[E surpreende-me quando conseguem refutá-lo com inteligência
.]

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O Eterno Drama... Ó Céus!!

Apesar de ter-se passado há uns anos atrás (grandes mesmo), recordo-me sempre daquela consulta no pediatra quando ele me perguntou se eu saía ao pai, ou saía à mãe?

Eu, hoje nem sei bem porquê, realmente cada vez sou mais diferente dela, respondi-lhe que saía à mãe. Ao que o Doutor respondeu, torcendo o nariz e franzindo o olho:

"À mãe?!? Olhe que não me parece. Só se for numa coisa que eu cá sei."

Escusado será dizer que só uns anos mais tarde entendi o impropério.


No fim de semana passado, estando eu em mais um evento de família e a minha avó vendo o seu nono bisneto baptizar-se, sucede aquela triste cena em que os pais chamam os filhos para os apresentarem aos amigos que não vêem desde o casamento, ou desde a altura em que alguns deles ainda tinham cabelo e as mamas delas ainda não lhes chegavam à barriga. Bom, em circunstâncias como estas, esforço-me por fazer aquela cara de santa e acender a auréola (normalmente a luz está quase sempre fundida, que aquela porra nunca acende!). Lá tenho eu de esboçar o meu melhor sorriso e fazer cara de anjo, mas normalmente essa cena é tipo flash, dura menos que um quarto de segundo. E dura ainda menos quando, do outro lado, a senhora olha para mim com cara de snob e diz:"Ai a menina não sai a nenhum dos dois, pois não?".

E eu esboço-lhe um sorriso daqueles e digo-lhe: "Pois não. Dizem que sou mais parecida com o padeiro."

Ui... a cara da minha progenitora... M E D O!!


[Será que deva fazer um teste de ADN? Ou os meus pais tentaram criar uma família Benetton e desistiram quando o meu irmão não nasceu com os olhos em bico?]

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Juro Que Sou Inocente!

... E ele, deitando o olhar às minhas pernas, julgando manter a discrição, disse-me: "Tímida assim? Não se casa."

... E ele era padre.

E que me caia um raio em cima e me parta em duas, se eu tive culpa.

[O Diabo provoca-me, das poucas vezes que tento reconciliar-me com Deus.]

Desafio do Ulisses


O menino Ulisses, deixou-me um desafio e como eu adoro ser desafiada, aqui vai:

O desafio consiste em revelar cinco factos sobre mim e dizer dez coisas de que gosto. Então, assim sendo, deixa cá ver:

Factos:

1. Quem olha para mim pensa que me alimento com folhas de alface. Quem me vê comer, assusta-se e pergunta o que faço ao que como. [É medonho, a sério].

2. Gosto de pessoas directas e verdadeiras, daquelas que podem ser o mais desagradáveis possível com as verdades que dizem, mas que sabemos que dirão tudo na nossa frente e nunca nas nossas costas, de forma inteligente e construtiva.

3. Sou de extremos, não consigo o meio-termo: tanto sou bem disposta, palhaça, afável e carinhosa como depressa consigo ser do mais frio e indiferente possível. Tenho dificuldade em perdoar, muita. Se quebram os pilares da confiança, amizade e sinceridade, jamais consigo que tudo volte a ser como antes (até hoje, abri uma excepção).

4. Durmo 4 horas por dia, e sou uma criança hiperactiva. Faz-me muita mas muita confusão a comodidade das pessoas, a espera por algo, a inércia e o sedentarismo.

5. Tenho um ego e uma auto-confiança tão grande que as pessoas por norma confundem isso com presunção e vaidade quando o que acontece é que, tenho plena confiança em mim e nas minhas capacidades. Conheço os meus limites, mas procuro sempre ultrapassá-los. Sou, no entanto, humilde e jamais volto as costas a quem precisa.




O que eu gosto:

1. Andar descalça no chão quente.

2. Rosè Frisante.

3. Futebol (completamente doente).

4. Línguas (está com maiúscula!!).

5. Praia ao final do dia, à noite, logo pela manhã. O mar acalma-me.

6. Ópera Chill Out.

7. Pessoas de personalidade forte, que me desafiem e me estimulem a inteligência e capacidade crítica.

8. De uma boa troca de olhares.

9. Jantaradas all night long com os amigos, no Verão.

10. Viver e sentir a adrenalina da vida.



E agora vamos lá passar o desafio:

Teardrop

Sutra

Sofia

Miúda das Letras

Menino da Mamã

Marquês de Sade

A todos quantos passarem por aqui e quiserem revelar um pouco de si.



[E não, não gosto de sexo. Sou frígida!]

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Dedicada ao Sutra


Porque o mesmo passarinho me contou que gostas de sorrisos... "disarm you with a smile", parece-me fair enough para retribuir o gesto.

[Sorriso.]

Why Me?!

Ontem fui ao senhor doutor, o dermatologista. Tive um ligeiro problema na bochecha, que me desfigurou a cara (ainda mais) e fiquei com uma pequena manchinha e um nódulo que me atormentavam.

Conclusão, nada de grave. Tudo dentro do normal, o problema era mais estético que outra coisa. Então, inquiri lá o senhor doutor sobre a melhor forma de resolver isto para não ficar com o raio da mancha. A solução dele, a única possível, seria a cirurgia que eu, na minha infinita ignorância esperava ser a laser. Mas não, seria uma cirurgia pequena, normal. Um processo bastante simples, mas com a vantagem de ficar com uma cicatriz. Pequena, ainda assim... uma cicatriz?!

(Até se me turvou a vista!!)

É claro, senhor doutor, eu livro-me desta manchinha de meio centímetro, mas fico com as trombas adornadas com uma cicatriz de meio metro!


Agora só me falta a oftalmologista dizer que é melhor tirar um olho, substituí-lo por uma pala, e mudo o nome para Jack Sparrow, não?!



[A parte negra disto tudo é que o dermatologista tinha uma qualquer má formação nas mãos e só pensava que estava a ser observada por um louva-a-deus!!]

[E mais uma vez, lá vou eu ter que ir rezar umas cem avé-marias logo à noite!!]

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Comentário Maldoso... Mas Antes Aqui Que Noutro Lado!

Já há muito que não via uma paixonite assolapada. Daquelas de liceu, em que ele quase lhe leva os livros, lambe o chão que elas pisa, melga-a em todas as oportunidades que tem, baba-se a falar para ela esquecendo que está no meio de outras pessoas, amua quando ela lhe não dá justificações. E ela, a Julieta sonsa, ignora-o em público, mas desafia-o em privado. Talvez porque a nossa Julieta seja comprometida, talvez porque saiba que o que faz não é correcto e teme a censura. Talvez porque precisa de qualquer coisa que ultimamente lhe falta ou, em sendo em quantidade, pode não primar pela qualidade.

Estas paixonites são engraçadas. Mas não no local de trabalho. Não à vista de todos. Que o façam. Quem sou eu para julgar? Agora façam-no com discrição e tentem que isso não resulte em novela mexicana, assistida por todos os colegas, que dê motivo de risinhos e mexeriquinhos maldosos.
Sinceramente faz-me urticária ver dois supostos adultos com atitudes tão infantis. Querem flirtar, querem mandar uma queca, ou simplesmente trocar saliva!? Façam-no! Mas com classe!


[Foi só um desabafo... mas estou tentada a perguntar-lhes se não é melhor pedir para acenderem as luzes do jardim, que ele é meio vesgo e às cegas aposto que não chega lá!!]

Estou Tentada...

A perder a compostura, saltar o balcão e atirar-me ao pescoço do Sr. Bancário, se ele continuar a tratar-me por “TU”.

Mas primeiro, peço-lhe licença, como bem comportada que me ensinaram a ser. O que não quer dizer que o seja. Não peço que me trate por Exma., Caríssima, Doutora ou sequer um qualquer outro título de uma nobreza exacerbada. Não, eu não lhe peço isso. Mas por uma questão de bons modos, de profissionalismo e, principalmente de respeito por quem não conhece, por quem decididamente não partilha em simultâneo a mesma WC, seria agradável se pudesse evitar o “tu”. Não, não se trata de snobismo, de preconceito ou de eu padecer do síndroma do nariz empinado. Nada disso mesmo. Agora, sou da opinião de que há limites e, apesar de eu ter uma cara de pita que vai fazer recados à mamã, ainda que não seja o caso, eu sou a cliente e por mais nova que seja (ou não), acho que a informalidade tem limites. Limites esses condicionados pela nossa circunstância, principalmente quando essa circunstância é o nosso local de trabalho e, a menos que a relação com o outro interlocutor seja próxima, de longa data ou de um grau de confiança e empatia tal em que, recorrer ao formalismo, se torne ridículo e despropositado, sou da opinião que a formalidade deve ser ligeiramente mantida e, em mantendo essa formalidade, a mesma não deverá ser confundida com arrogância ou prepotência.


[Se ainda assim ele não entender... posso sempre desatar a chorar, soluçar, berrar. Agora que lhe apanhei o gosto, não quero eu outra coisa.]

Imagem - Angelina Jolie

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Da Saudade.

A noiva chegou ao altar e eu senti os meus olhos ficarem molhados. O noivo segurou a mão da noiva, e eu fechava os olhos para não deixar cair uma única lágrima. Os noivos olhavam um para o outro, eu olhava para o tecto desesperadamente tentando que aquelas teimosas não caíssem. O padre falava na alegria que era duas pessoas se tornarem uma só, qual Pablo de Neruda no seu "Talvez" e eu não controlei o impulso, e deixei cair as lágrimas, quase em convulsão. E assim passei uma hora, a tentar disfarçar as lágrimas e a desviar-me do fotógrafo que, ao final do dia tinha mais fotos da prima ranhosa e chorona do noivo, que do casal em si.

Naqueles dois vi a pureza que pouco se vê num jovem casal hoje em dia. Diria mesmo que colocava as minhas mãos no fogo em como aqueles dois vão cumprir o "amar-te e ser-te fiel... and so on".

Olhava-o especialmente a ele. Nos últimos dois dias lembrava-me de como tinhamos todos crescido juntos e dos tempos em que éramos quatro netos todos a viver praticamente debaixo do mesmo tecto. Crianças, bebés, e apesar da ligeira diferença de idades, das voltas que as nossas vidas têm dado, do tempo que passamos sem nos vermos, nunca os laços que nos unem enfraqueceram. Nunca nos olhámos como estranhos. Sempre nos apoiámos.

Os Natais passados juntos são inesquecíveis, os lanches de Domingo na cozinha da avó, sentados à volta da fogueira [estivesse ela acesa ou não], as férias e as idas à praia, recordo-me especialmente de uma festa de aniversário em casa dele passada ao som dos Onda Choc [ai os Onda Choc e os Ministars!!], os primeiros amores, enfim aquela nostalgia do passado voltou com uma intensidade que nunca havia sentido.

Voltou a saudade Dele. A saudade de ver o meu avô entrar em casa ao Domingo ao entardecer e ver a minha avó colocar-lhe a mesa para jantar. Às vezes aborrecia-se por ele chegar tarde e não lanchar connosco. Voltou a saudade de vê-lo naquela bicicleta e encostá-la ao muro da casa. A saudade do cheiro da videira de morangueiro ao romper do Verão, aquele cheiro doce que nos fazia querer comer as uvas quando ainda estavam verdes. Aquela videira que secou quando ele, o meu avô, partiu. Naquele dia, eu tomei consciência de que a vida não era eterna, nunca me tinha sentido impotente, nunca tinha sentido uma perda tão próxima, mas também nunca tinha sentido uma dor tão forte tornar-se numa força tão grande e desconhecida que me surpreendia a mim mesma e a todos quantos tinham presenciado as minhas crises de revolta. Consolava-me a ideia de, ao perder uma vida, ganhar outra. Aquele pequeno bebé parecia ter nascido para nos ajudar a superar a perda e compensar os momentos de dor, com a felicidade de tê-lo ali, tão pequenino, tão lindo. Como dizia a minha tia Bela, para me ajudar a passar aqueles momentos, era a lei da vida e natural era enquanto fossem primeiro os mais velhos. Acho que isto me ajudou muito e hoje, penso nisso sempre que passo por uma situação semelhante.

Bom, tudo isto para justificar a minha triste figurinha. Acredito que sempre que falarem do casamento do meu primo, se vão lembrar da chorona do vestido rosa avermelhado que não ficou com os olhos borrados de rímel por obra do Divino!!

Ainda tentei justificar que a senhora da lavandaria havia usado Confort aroma de Cebola quando engomou o vestido, mas ninguém foi nessa.

Felizmente, a minha querida prima arranjou justificação para o meu choro compulsivo:

"Ela ficou assim quando o padre disse que não pensava ter filhos!!"



[Raios, mas que lamechas que eu ando!! Prometo não chorar mais até ao próximo casamento!!]