segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Da Saudade.

A noiva chegou ao altar e eu senti os meus olhos ficarem molhados. O noivo segurou a mão da noiva, e eu fechava os olhos para não deixar cair uma única lágrima. Os noivos olhavam um para o outro, eu olhava para o tecto desesperadamente tentando que aquelas teimosas não caíssem. O padre falava na alegria que era duas pessoas se tornarem uma só, qual Pablo de Neruda no seu "Talvez" e eu não controlei o impulso, e deixei cair as lágrimas, quase em convulsão. E assim passei uma hora, a tentar disfarçar as lágrimas e a desviar-me do fotógrafo que, ao final do dia tinha mais fotos da prima ranhosa e chorona do noivo, que do casal em si.

Naqueles dois vi a pureza que pouco se vê num jovem casal hoje em dia. Diria mesmo que colocava as minhas mãos no fogo em como aqueles dois vão cumprir o "amar-te e ser-te fiel... and so on".

Olhava-o especialmente a ele. Nos últimos dois dias lembrava-me de como tinhamos todos crescido juntos e dos tempos em que éramos quatro netos todos a viver praticamente debaixo do mesmo tecto. Crianças, bebés, e apesar da ligeira diferença de idades, das voltas que as nossas vidas têm dado, do tempo que passamos sem nos vermos, nunca os laços que nos unem enfraqueceram. Nunca nos olhámos como estranhos. Sempre nos apoiámos.

Os Natais passados juntos são inesquecíveis, os lanches de Domingo na cozinha da avó, sentados à volta da fogueira [estivesse ela acesa ou não], as férias e as idas à praia, recordo-me especialmente de uma festa de aniversário em casa dele passada ao som dos Onda Choc [ai os Onda Choc e os Ministars!!], os primeiros amores, enfim aquela nostalgia do passado voltou com uma intensidade que nunca havia sentido.

Voltou a saudade Dele. A saudade de ver o meu avô entrar em casa ao Domingo ao entardecer e ver a minha avó colocar-lhe a mesa para jantar. Às vezes aborrecia-se por ele chegar tarde e não lanchar connosco. Voltou a saudade de vê-lo naquela bicicleta e encostá-la ao muro da casa. A saudade do cheiro da videira de morangueiro ao romper do Verão, aquele cheiro doce que nos fazia querer comer as uvas quando ainda estavam verdes. Aquela videira que secou quando ele, o meu avô, partiu. Naquele dia, eu tomei consciência de que a vida não era eterna, nunca me tinha sentido impotente, nunca tinha sentido uma perda tão próxima, mas também nunca tinha sentido uma dor tão forte tornar-se numa força tão grande e desconhecida que me surpreendia a mim mesma e a todos quantos tinham presenciado as minhas crises de revolta. Consolava-me a ideia de, ao perder uma vida, ganhar outra. Aquele pequeno bebé parecia ter nascido para nos ajudar a superar a perda e compensar os momentos de dor, com a felicidade de tê-lo ali, tão pequenino, tão lindo. Como dizia a minha tia Bela, para me ajudar a passar aqueles momentos, era a lei da vida e natural era enquanto fossem primeiro os mais velhos. Acho que isto me ajudou muito e hoje, penso nisso sempre que passo por uma situação semelhante.

Bom, tudo isto para justificar a minha triste figurinha. Acredito que sempre que falarem do casamento do meu primo, se vão lembrar da chorona do vestido rosa avermelhado que não ficou com os olhos borrados de rímel por obra do Divino!!

Ainda tentei justificar que a senhora da lavandaria havia usado Confort aroma de Cebola quando engomou o vestido, mas ninguém foi nessa.

Felizmente, a minha querida prima arranjou justificação para o meu choro compulsivo:

"Ela ficou assim quando o padre disse que não pensava ter filhos!!"



[Raios, mas que lamechas que eu ando!! Prometo não chorar mais até ao próximo casamento!!]

3 comentários:

teardrop disse...

Eu também me emociono nos casamentos... Se chegar a minha vez, nem sei como será ;)

*XS* disse...

teardrop,

Quando chegar a tua hora, não vais chorar pois não?! A noiva tem de estar linda e radiante e não com os olhos inchados e vermelhos!!

:)

Vício disse...

nos funerais ris-te?