quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Dos Complexos.

Eu podia dizer dizer que sou perfeita. Que sou a Mulher perfeita, com um invejoso e escultural 86-90-86, pele de seda e olhos de felina. Que o Olivier se inspira nos meus cozinhados e a Paula Bobone na minha etiqueta. Que dei um grande contributo na ilustração do Kamasutra e que os homens me caem aos pés como se de tordos se tratassem. Que o Usher se refere às nossas trocas de fluidos quando canta "a lady in the street but a freak in the bed". Podia dizer que sou o exemplo do que uma boa filha deve ser, sempre obediente, carinhosa e prestável, dando a alegria nossa de cada dia aos meus progenitores. Podia dizer que sou a irmã mais querida e adorável do mundo, a quem os irmãos (que pelo que me foi dado a conhecer ainda é só um) pedem sempre os bons conselhos; cuja abnegação e altruísmo são palavras de ordem e sempre sobrepostas ao interesse pessoal. Podia também dizer que sou a Amiga perfeita, sempre presente nos maus e bons momentos, aquela que oferece os melhores presentes no Natal e não olha a meios para os deixar felizes. Podia, eventualmente, dizer que sou a Colaboradora perfeita, com um grau de inteligência acima da média, cujos rácios de eficácia e eficiência são superiores aos de qualquer outro colaborador. Com uma vasta cultura que abrange os primórdios da civilização e previsões infalíveis no que concerne à evolução dos stock, commodities and currency markets; com o domínio pleno de mais de dez Línguas entre elas o Mandarim, o Brasileiro e o Mirandês.

Enfim, eu podia aqui fazer-vos um tour pela perfeição. Divagar entre a concepção de mulher à luz de Petrarca ou escrever um evangelho segundo Saramago.

Infelizmente, no meio de tanta perfeição, o meu nome do meio é Electra, e o meu complexo é tão vasto que normalmente a minha mãe acaba por se chatear com o meu pai cada vez que ele toma partido por mim e não por ela. Por outro lado, o meu pai acaba por ficar danado com a minha mãe, cada vez que ela defende o seu querido filho. E eu acho que devia ser Electra e o meu irmão, Édipo. Seríamos órfãos, bem sei.

Mas nada é perfeito.

1 comentário:

*XS* disse...

Apresento aqui as minhas humildes desculpas ao Caríssimo/a Anónino(a) que havia comentado este post, mas por motivos técnicos e esssencialmente, pela escassa inteligência da proprietária do blog, tivemos de refazer o post e o comentário foi extinto.

*

Anónimo/a,

Quanto ao "infelizmente" de que falava, não se preocupe. Estaríamos perante um post perfeito (na sua pinião, é claro), se eu não tivesse usado esse advérbio de carga negativa. Mas como ambos sabemos, a perfeição nunca se atinge. Logo o post é quase perfeito.

(Mi casa es su casa.)