sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Best Girl *

Ainda me lembro do primeiro dia em que te vi. Foi há tantos anos e tu eras tão pequenina. Tu ainda eras a minha pequenina. E eu, com esta minha incapacidade de aceitar que as coisas são assim mesmo e que nada é eterno, achava que não. Ainda tínhamos tempo.

Mas nós tivemos o nosso tempo. Aquele tempo em que eu acordava e tu vinhas à janela só para eu me debruçar e te fazer as tuas festinhas de bom dia. Aquele tempo em que tu te escapavas para dentro de casa e ias para a janela ver quem passava. Aquele tempo em que corrias desde o fundo da casa até à varanda e deslizavas até bater com o focinho contra a porta. Aquele tempo em que te rebolavas sempre que apanhavas um tapete fofinho. Tu adoravas coisas fofinhas. Aquele tempo em que mal me vias a por a mala no carro e te encostavas à porta triste porque sabias que era mais uma semana que iamos estar longe uma da outra. Aquele tempo em que eu voltava e tu corrias para mim desvairada de saudade. Aquele tempo em que nos sentavamos as duas na varanda ao sol e eu chateava-te e tu mordias-me as costas. Aquelas noites em que eu me sentava sozinha à varanda e tu escutavas os meus pensamentos e angústias e resoluções de vida e outras merdas em que eu penso. Aquele tempo em que me ladravas danada porque eu estava a comer qualquer coisa que teimava em não te dar só para te chatear. Aquele tempo em que eu chegava a casa e tu fazias-me sair três ou quatro vezes do carro para te explicar que assim não dava e que tinhas de sossegar senão alguém se ia magoar. Aquele tempo em que eu me aparecias toda encharcada só porque não resistias a andar a chuva. Aquele tempo em que tu ladravas tão agressiva que, quem não te via, pensava que eu tinha uma fera a guardar a casa. Aquele tempo em que adormeciamos as duas à lareira. Aquele tempo em que eu te fazia festinhas no pescoço e tu levantavas a cabeça para me dizer que não, ainda não chegava de festinhas. Aquele tempo em que não querias tomar banho e eu te obrigava e tu vingavas-te e corrias para o quintal até ficares imunda e eu castigava-te e levavas com água fria no pêlo. Sempre tivemos um problema de autoridade e tu ganhavas a grande maioria das vezes. Esses foram os nossos momentos. Foste minha companheira em fases boas e outras menos boas... Best Girl *

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