O Segredo de Fátima

A XS era uma menina bem comportada.

A XS gostava de fazer as vontades à avó.

Um dia a XS foi com a avó ao Sagrado Santuário de Fátima.

Quem a visse, diria que a XS devia ser uma dos três Pastorinhos (provavelmente o Francisco já que a XS sai em muito ao seu pai.)

A avó queria confessar-se e a doce XS mais uma vez, num acto de pura abnegação e amor ao próximo, levou a avó ao confessionário de Fátima.

O confessionário parecia o posto médico lá da aldeia: cheio de mulheres a lamentarem-se dos seus males e enfermidades da vida, ar sofredor, aguardando que o Sr. Padre fosse benévolo e a penitência branda. Algumas mulheres tinham bigode, penso que eram mulheres, pois vestiam saia.

A avó sugeriu que a XS se confessasse, mas a XS não tinha pecados. A XS alimentava os pobrezinhos, a XS ajudava as velhinhas a atravessar a estrada, a XS dava as suas roupas para os meninos carenciados, a XS ajudava os gays a fazerem a depilação e indicava aos arrumadores onde estavam lugares vazios no estacionamento, abdicando generosamente do soldo que estes recebiam por saber que aqueles senhores tinham uma profissão de desgaste rápido.

Mas a XS não queria deixar desgostosa a sua avó e acedeu ao pedido, feliz por ir dar dois dedos de conversa com o Sr. Deus, que a XS pensava chamar-se José Mourinho.

Chegada a sua vez, a incauta menina abeira-se do Sr. Padre e, roga-lhe: “Perdoai-me Sr. Padre porque pequei.” Pobre criança, obrigada a mentir ao padre só para deixar feliz a mãe da sua progenitora.

Entre o padre e a XS encontrava-se uma barreira, digamos que era uma espécie de rede, que só deixava ver praticamente um vulto. Assim pensava a XS. Mas o padre devia ter um olhar à Super Herói e, por entre aquela espécie de rede, o senhor conseguiu ver pormenores.

Lamento, mas não foram os seios da XS que o padre visualizou. Ele conseguiu visualizar o sinal que a XS tem no pescoço. Aquele pequeno ponto era visível pelas grades que separavam o Mal do Bem. E o Mal apareceu. O Mafarrico quis brincar com o padre e obrigou-o a dizer: “Minha filha, a menina tem um sinal muito sexy no seu lindo pescoço”.

A primeira reacção da pequena XS foi olhar para os céus e pedir ao Deus muita misericórdia por aquela alma ignóbil, de quem o Chifrudo se havia apoderado. Mas havia tecto em vez de céu, deitando por terra a nobre investida da pequena.

A XS aumentou a voz (nada difícil de fazer porque a XS é descendente das peixeiras do Bolhão) e assegurou-se que o som era audível em toda a sala. Olhou o padre com ar inocente e deu um tom trémulo à sua voz que roçava a incredibilidade, o desgosto, a mágoa e indiciava o iniciar do choro de uma inocente.

A XS interpelou o Sr. Padre:

“Desculpe Sr. Padre mas você quer confessar-me ou quer seduzir-me?”

Escusado será falar das fronhas do mulherio que ali aguardava a sua vez. Indignadíssimas. Como ousava um filho de Deus ofender a um inocente cordeiro do rebanho do Criador? Começou um burburinho.

Feliz com a sua proeza, a XS pensou que havia salvado o dia àquelas senhoras, avisando-as de que aquele padre não merecia ser o intermediário entre elas e Deus e viu-as todas a apressadas, atropelando-se, pensando que abandonavam aquele local impuro.

Tão inocente a nossa XS.

Elas corriam para o confessionário do herege padre gritando: “Confesse-me a mim!! Confesse-me a mim!!”

[Às vezes pergunto-me: será que Deus dorme a sesta?]